Série Patrimônio Histórico e Cultural de Santê - Santa Tereza Tem
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Série Patrimônio Histórico e Cultural de Santê

Por Ana Beatriz Mascarenhas

(Obs. Esta matéria foi publicada em 18 e agosto de 2019)

No dia 17 de agosto é comemorado o Dia Nacional do Patrimônio Cultural e, aproveitando a data, o Santa Tereza Tem dá início à Série Patrimônio Histórico e Cultural de Santê.

A Série é feita em parceria com arquiteta e urbanista Ana Beatriz Mascarenhas, pós-graduada em Gestão Cultural e mestra em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável. A sua dissertação de mestrado focou o bairro Santa Tereza, pelo qual ela tem muito apreço.

Assim, vamos publicar textos em que ela analisa, em seus aspectos históricos e arquitetônicos, imóveis que guardam a memória das famílias e de Santa Tereza.

Casa da família Ogando

A família Ogando veio da Espanha, quando Severino Pena Taboada e Conceição Ogando Penas imigraram para o Brasil e se instalaram em Santa Tereza, em 1926. O imóvel, construído pelo casal, para abrigar a família, continua praticamente da mesma forma. Algumas informações históricas foram retiradas de uma reportagem da Série Memórias de Santê, feita em 2013, com o filho do casal Felipe Ogando, que faleceu recentemente,

O casal Severino Pena Taboada e Conceição Ogando Pena em frente à casa.

O imóvel, da década de 1920, tem *influência eclética tardia. (*O ecletismo é uma mistura de estilos arquitetônicos que podiam vier da arquitetura clássica, medieval, renascentista, barroca e neoclássica, principalmente no século XIX).

Aparentemente, foi construída como edificação principal e depois acrescido de um cômodo na parte posterior esquerda. Também pode-se notar outras pequenas construções que ocupam o restante do lote na parte posterior, provavelmente erguidas ao longo dos anos.

O fechamento frontal se dá por muro de alvenaria e grade à meia altura. O portão que leva à entrada principal é de duas folhas, que apresenta um detalhe singular – as iniciais do construtor. Uma curiosidade: esses portões vieram do antigo prédio dos Correios, na Avenida Afonso Pena com Bahia, onde fica hoje o Edifício Sulacap. O suntuoso prédio, construído em 1906 foi demolido em 1940. Segundo o historiador Luis Góes, Severino transportava os entulhos da construção demolida e por coincidência o portão trazia as suas iniciais. Ele então, em lugar de jogar fora usou em sua casa.

 Há também um outro portão menor e de folha única na extrema esquerda do lote.  A construção está implantada no centro do lote (aproximadamente 10x32m) e no mesmo nível da rua.

O telhado de cinco águas – duas delas, perpendiculares à fachada frontal formando um frontão emoldurado por faixas horizontais, verticais e diagonais em alto relevo; além disso há um elemento decorativo em ferro disposto no centro do frontão. 

A fachada frontal é composta pelo alpendre e janela de dupla aba – que parecia ter, nos dois terços que formam a parte superior, bandeira em vidro dividida em quatro; e, a porção inferior constituída somente por madeira. A bandeira superior da janela é fixa dividida em cinco partes – quatro delas quadradas e central retangular, alternando-se as cores: branco opaco (as duas das extremidades e a central) e verde (as outras duas restantes).  Esta janela é protegida por gradil de ferro que formam padrão semelhantes à arabescos.

O alpendre possui piso de ladrilho hidráulico com padrão triangular em tons de marrom. A porta de entrada apresenta parte inferior em madeira almofadada e superior com painéis de vidro retangulares (nas extremidades) e forma composta (ao centro) nas cores branco fosco e verde.

Dia Nacional do Patrimônio Cultural

Desde de 1998, é comemorado o Dia Nacional do Patrimônio Cultural – a data, 17 de agosto, em homenagem ao centenário do belo-horizontino Rodrigo Melo Franco de Andrade. escritor, advogado e jornalista comandou o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN atual IPHAN – Instituto do patrimônio Histórico e Artístico Nacional), desde sua fundação em 1937 até 1967.

O vocábulo patrimônio deriva do termo do latim patrimonĭum, que significava bens de família, herança. A expressão patrimônio histórico é, no entanto, segundo Françoise Choay (A Alegoria do Patrimônio, 1992) um bem cuja função se destina à fruição de uma comunidade – desde obras das belas-artes ao saber fazer.

Rodrigo Melo Franco

A autora relata que é possível situar o surgimento do monumento histórico entre os séculos XIV e XV, pelas posturas de reflexão e contemplação dos humanistas e artistas em relação aos monumentos da Antiguidade. A criação de uma comissão de Monumentos em 1790 na França, se encarrega de tombar e inventariar todos os bens que, naquele momento, eram relevantes no contexto da formação dos Estados-Nações.

No Brasil, a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, em 1937 e vinculado ao Ministério da Educação e Saúde, deu o impulso inicial no que se refere à proteção de bens históricos. Em 1938 foram tombados 234 bens em dez estados – dentre eles, os Conjuntos arquitetônicos e urbanísticos das cidades mineiras de Ouro Preto, Diamantina, Mariana, São João Del Rei, Serro e Tiradentes (MG).

Em 1946 o SPHAN foi transformado em Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN), ainda subordinado ao Ministério da Educação e Saúde (MES) até 1970, quando é então transformado em Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

 Vale destacar que, ao longo desses 82 anos de existência, o conceito inicial de patrimônio histórico gradualmente converte-se em patrimônio cultural – ampliando sua concepção e englobando, além dos bens tangíveis, os saberes, ofícios e modos de fazer, celebrações, formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas assim como lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas).

Obs. Optamos por não citar o endereço.

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