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Santa Tereza Tem Memória: Felipe Ogando, história dos imigrantes espanhóis

(Reportagem feita em 2013 – faleceu em 2016)

“Ogando, não é Orgando. O pessoal tem mania de colocar um r depois do O”, reclama  Felipe Pena Ogando, um dos moradores mais antigos do Santa Tereza. Esbanjando vitalidade, aos 85 anos todos eles morando no bairro, Felipe viveu de perto as transformações pelas quais Santa Tereza tem passado no decorrer do tempo.

Filho do casal de imigrantes espanhóis, Severino Pena Taboada e Conceição Ogando Penas, que se instalaram em Santa Tereza, em 1926, e moraram durante anos em uma casa, que ainda existe, na Rua Eurita, 240, onde ele nasceu (foto).

O bebê Felipe Ogando com os pais na calçada em frente à casa que existe até hoje, à Rua Eurita, 260

Ele conta com orgulho, que sua história de vida está no bairro: “Em Santa Tereza nasci, cresci, me casei com a Zely Ziviane, tive meus quatro filhos, Ramiro, Vander, Valéria e Cristina e os criei aqui,” conta. Na verdade, revela que o casamento foi na igreja da Floresta, “porque a minha noiva, Zely e minha cunhada Zita, se desentenderam com o padre aqui da igreja sobre a cerimônia. Como elas se casaram no mesmo dia, decidiram procurar outra igreja e a mais próxima era a da Floresta”.

Felipe em frente à sua atual residência construída por ele

Depois do casamento, em 09-02-1957, conta ele, “aluguei uma casa na Rua Ângelo Rabelo. Nessa época já trabalhava na Rede Ferroviária, no Departamento de Contabilidade, onde entrei aos 27 anos e trabalhei até me aposentar. Enquanto isso, comprei este lote aqui, na Rua Tenente Procópio.” Aqui, ele faz parênteses e explica que a rua tem esse nome em homenagem ao Capitão Procópio, que morava nela e morreu durante a revolução de 30.

Bom, continua ele, “comecei a construir a casa. Tijolo por tijolo, com a ajuda de meu pai. Isso levou quatro anos de trabalho aos sábados e domingos, mas levantei eu mesmo esta casa”, conta com orgulho.

Ainda com os cabelos pretos

Segundo ele, “era uma época tranquila, em que podia se deixar a porta aberta, que não tinha nenhum problema. Era comum a meninada brincar na rua, na praça, que não havia nenhum perigo. Hoje, está tudo mudado. Tem violência pra todo lado. Em Santa Tereza, eu acho que menos do que no resto da cidade, pelo que a gente vê nos jornais.”.

Aqui ainda faltam algumas coisas, ele comenta, “como, por exemplo, bancos. Com isso temos de ir até à Floresta”.  Outro problema que ele vê é o caos em que o trânsito virou, reclama ele, que ainda dirige. “Não tem jeito. É muito carro pra pouco chão. A grande culpa é do Juscelino Kubitschek,que deu início ao sucateamento das ferrovias e estimulou a fabricação de carros.”

Seu Felipe fala com orgulho que tudo o que tem veio do seu trabalho na Rede Mineira de Viação (foto) e até hoje mantem contato com os amigos de trabalho na Associação dos Ferroviários da Rede Mineira, na Rua Itajubá, 141, no Floresta. Ele conta que “toda última quinta-feira do mês, a gente tem encontro marcado para dançar e conversar”.

Ele lamenta que a má administração e o estímulo à produção de carros tenha causado o sucateamento da Rede.  “Claro que dava prejuízo, pois infelizmente a política às vezes atrapalha e a Rede Mineira era um cabide de emprego.”

O desmanche das ferrovias, ele explica, “não fez bem ao país. Onde o trem passava, levava o progresso. Com o fim dele muitas cidades do interior perderam o movimento e ficaram paradas no tempo.” Ele acha que o governo deveria trazer os trens de volta aos trilhos, pois, afirma com sabedoria, “resolveria e muito o problema do transporte público e do trânsito”.

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