Mito ou verdade - Santa Tereza Tem
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Mito ou verdade

Mito ou verdade: Santa Tereza parece cidade do interior?

A gente sempre ouve comentários de que o bairro com suas praças e casarios e com o jeito simples de viver de seus moradores lembra as cidades do interior. Será mesmo verdade ou é uma história criada, pra ficar mais atual, uma fake news? 

Quem responde a essa pergunta de forma científica é a arquiteta Ana Beatriz Mascarenhas em sua dissertação de mestrado, Santa Tereza em Ritmánalise. Ela pesquisou os modos de vida do bairro por três anos para fazer o trabalho, em que obteve o título de mestre em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável. E garante que é verdadeiro.

Confira a entrevista concedida à Letícia Assis do Santa Tereza Tem

 

O bairro chamou sua atenção por ser considerado um dos mais tradicionais de Belo Horizonte, tanto pela preservação da arquitetura, da cultura, como pelo modo de vida de seus moradores, o que lhe dá características bem peculiares, devido as quais,  Ana Beatriz, graduada em Arquitetura e Urbanismo, pós-graduada em Gestão Cultural, escolheu fazer de Santa Tereza o objeto de estudo de sua dissertação.

Ela não parou por aí e atualmente ela mantém o bairro como tema de sua tese de doutorado, enquanto atua como pesquisadora em um projeto de extensão no Laboratório de Paisagem da UFMG, onde trata da tipologia de Bento Rodrigues, lugarejo destruído em 2015 pela barragem da Samarco.

Ana Beatriz em sua pesquisa pelo bairro

Santa Tereza em Ritmánalise

Para ara escrever a dissertação, a arquiteta por três anos pesquisou e vivenciou a forma pela qual os habitantes de Santa Tereza interagem entre si e com o bairro. Para realizar o estudo, utilizou a metodologia ritmanálise, abordada pelo filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre, que a desenvolveu a partir da análise do cotidiano no espaço urbano.

Em sua dissertação, Ana explica que a ritmanálise “procura investigar os ritmos individuais e sociais em determinados recortes temporais e espaciais”. Ao usar esta metodologia de pesquisa, seu intuito foi buscar comprovar e confirmar, à medida em que foi possível, a vivência dos moradores do bairro como um patrimônio cultural local.

Cena da Praça

Ana Beatriz explica ter escolhido Santa Tereza com objeto de estudo por sua curiosidade em entender a dinâmica do bairro.  “Existe mesmo esse aspecto de Santa Tereza parecer um bairro com ambiência semelhante às cidades do interior. Não é um mito. Então eu quis aprofundar mais sobre isso, porque esse modo de vida é cada vez mais raro dentro dos grandes centros urbanos. E logo que eu comecei a minha dissertação o bairro foi protegido pelo tombamento. Isso foi mais um motivador para meus estudos”, explica a arquiteta.

Ana pontua que a proteção de Santa Tereza foi, de certo modo, atípica. “O que foi protegido foi justamente os modos de vida e não, por exemplo, tipos edilícios muito característicos ou excepcionais. O que é excepcional em Santa Tereza são os modos de vida. Isso para mim foi muito interessante”.

Para a pesquisadora, o que há de especial no ritmo do cotidiano das pessoas, é a relação forte entre a vizinhança. “É uma coisa que não se vê mais. As pessoas saírem de casa e colocarem as cadeiras nas calçadas, fazerem comida, ficar ali conversando, tocando, cantando, você não percebe isso na maior parte de Belo Horizonte. Das pessoas passarem na rua, conversarem, se cumprimentarem e falar, por exemplo, do canteiro de rosas que plantaram ali na praça e cuidarem daquilo. É uma relação muito cidadã”.

Em sua conclusão, Ana Beatriz ressalta o grande ganho para toda BH a proteção do bairro e ressalva o ativismo da Associação Comunitária do Bairro Santa Tereza (ACBST) e do movimento Salve Santa Tereza que, para ela, sem eles essa preservação não seria contemplada.

“E principalmente perceber que essa proteção por um conjunto urbano foi uma construção coletiva e uma demanda dos próprios moradores. Isso é o que eu acho mais fantástico, o mérito foi justamente preservar esses modos de vida. Porque o que a gente vê até então é que se protege as edificações, mas há uma gentrificação, então que sentido isso faz? ”, encerra Ana Beatriz, deixando essa reflexão no ar.

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