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Dificuldades da União dos cegos Santa Tereza

Precisamos ajudar a entidade! É um apelo, mesmo, leitores do santaterezatem. A União dos Cegos necessita de auxílio, e rápido!

Dia 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, é dedicado ao Deficiente Visual. A Lei foi criada em 1961 com a intenção de incentivar a solidariedade e eliminar a discriminação às pessoas que têm problemas visuais. Nós estamos aproveitando o “gancho” desta data para pedir a ajuda de todos vocês.  Vamos ver, nessa matéria, depoimentos de alguns dos nove abrigados,  que vem passando por sérios problemas financeiros e está ameaçada de ser fechada.

união dos cegos prédio

A sede da entidade na Rua Mármore precisa de reformas

DEPOIMENTOS

José Dias de Almeida (76 anos), carinhosamente chamado de Bingo, nasceu em São Miguel, um lugarejo no interior de Minas. Aos seis anos, perdeu a visão em consequência do sarampo e sua vida não foi nada fácil. Ele lembra que chegou à então União Auxiliadora dos Cegos, em 29 de abril de 1974. “Vim atrás de trabalho e, durante anos, vendi loteria na rua. Agora a idade não permite mais. Aqui é meu lugar. Não tenho mais parentes, nem para onde ir. Minha casa e minha família são os meus companheiros daqui”.

Geraldo Moreira da Costa, 58 anos, perdeu a visão, ainda bebê. Veio de Itambacuri (Vale  do Rio Doce) estudar no Instituto São Rafael (escola especializada para cegos) e ficou hospedado na União Auxiliadora dos Cegos.  Depois morou fora por uns tempos e há 14 anos reside na entidade “por precisão”. “Tive o privilégio de viver em Santa Tereza, para onde vim ainda menino e me fiz homem. Morei em outros lugares, mas por problemas de saúde, voltei. Aqui, o ir e vir são mais fáceis. Sei de cor os caminhos e as pessoas já nos conhecem e nos ajudam” comenta.

Geraldo fala sobre a necessidade da entidade buscar novas contribuições. “Esta casa foi construída com a ajuda do povo e oferecia todo apoio ao cego. Aqui fiz o curso de massagista, e pude trabalhar durante 10 anos na profissão, no Clube Atlético. Infelizmente os sócios se foram, pois uns morreram, outros mudaram e não houve renovação. Por isso peço às pessoas que nos deem uma força, com contribuição financeira ou em alimentos”.

Segundo ele, na maioria das vezes a discriminação ao cego começa na família. “Ouvia minha mãe dizer que não ia sair puxando cego pela rua. Isso me deixava infeliz. Então, quando pude, saí de casa. Aqui tenho atenção, alimentação, onde viver. Fico preocupado com o futuro, pois não sei o que a Justiça vai resolver sobre a situação desta casa”, comenta Geraldo sobre a pendência jurídica em que a união está envolvida.

O baiano Juvenal de Jesus, 72 anos, morava em uma fazenda. Ele relembra que “eu jogava bola, andava a cavalo. Mas uma névoa branca foi tomando conta dos olhos e a cegueira veio aos 16 anos. Depois apareceram tumores pelo corpo. Vim para Belo Horizonte atrás de cura no Hospital das Clínicas e Santa Casa”.

Acompanhado de uma irmã, morou no abrigo belo Horizonte por três anos e depois na favela, na Serra. “Era chão de terra e nem banheiro direito tinha. A gente sofria lá e a dificuldade para caminhar era grande, dependia dos meninos da favela para me guiar. Um dia me falaram sobre a “União”, onde eu poderia me desenvolver melhor. Vim pra cá em 1971 e aprendi com a professora Iris a me locomover pelas ruas com segurança. Só a saúde é que ainda está meio bagunçada”.

Juvenal também tem receio de que o local feche as portas. “Essa casa não pode acabar. Vai ser difícil pra todos nós que dependemos dela. Deus vai ajudar e a Justiça vai prevalecer, pois essa casa é uma benção. Se for fechada para onde iremos?”, pergunta Juvenal, sem encontrar uma resposta.

Sobre a União Auxiliadora dos Cegosde MG

união dos cegos predio 1Em 1955, Joacy Rolim da Silva instalou uma sucursal da União Auxiliadora dos Cegos do Brasil, à Rua Divinópolis, 459. Nos anos seguintes funcionou nas Ruas Alvinópolis, Estrela do Sul e Conselheiro Rocha.

A partir de 04 de outubro de 1967 a entidade, emancipou-se e passou a denominar-se União Auxiliadora dos Cegos de Minas Gerais. Em 03 de março de 1973, foi transferida definitivamente para o prédio próprio, de 700m²,  à Rua Mármore, 664.  *

Nos anos 60, 70 e 80 teve sua fase áurea, quando atendia centenas de deficientes vindos do interior ou de outros estados para estudar, fazer tratamentos ou em busca de trabalho. Eles se hospedavam no local e recebiam gratuitamente alimentação, atendimento médico e odontológico, faziam cursos profissionalizantes e aprendiam a conviver com a deficiência.

Em meados da década de 90, o movimento, que havia na Rua Mármore, do qual muitos devem se recordar, foi diminuindo até não mais ser percebido.  Hoje, pouca gente sabe que a entidade existe e resiste apesar das dificuldades financeiras e administrativas das últimas décadas.

Naqueles anos, o movimento do público em geral também era grande, pois no local havia uma estrutura médica e odontológica, com cerca de 40 funcionários, que atendia, não só aos cegos, mas às pessoas que contribuíam como associados para a manutenção da entidade. Elas contavam com descontos nas consultas e exames.

Mas isso faz parte do passado, segundo o atual presidente da entidade, José Pedro da Silva, que também é deficiente visual.

A DECADÊNCIA DA ENTIDADE

José Pedro

José Pedro da Silva

Vários fatores colaboraram para a decadência da entidade. Um dos primeiros problemas foi a proibição, pelo Conselho Nacional de Assistência Social, da existência dos departamentos médicos nas entidades filantrópicas. Isso fez com que muitos associados, que contribuíam em troca de descontos para terem Assistência Médico/Odontológica, se desligassem.

José Pedro diz que outra causa, “talvez a principal”, está ligada à falta de comprometimento dos profissionais contratados pelas suas sucessivas diretorias para administrar a entidade. Por má fé ou incompetência, esses profissionais deixaram de pagar o FGTS e INSS dos empregados, resultando em uma dívida trabalhista, que atualmente gira em torno de R$ 6 milhões.

Diante disso, outros colaboradores também se afastaram, os bens da entidade foram penhorados e o caso tramita na justiça. Justifica-se aí a apreensão daqueles que têm na casa o seu lar. A tensão reina por receio de que a justiça determine uma possível saída deles do espaço.

COMO ESTÁ A SITUAÇÃO HOJE

A atual diretoria se esforça para manter apoio pelo menos aos nove abrigados que vivem lá por não terem para onde ir. Atualmente são servidas quatro refeições e são mantidos três profissionais para cuidar da limpeza, da comida e para assisti-los em suas necessidades.

José Pedro da Silva lamenta não poder atender os deficientes como no passado. “É triste ver este prédio, que já abrigou 200 deficientes, poder ajudar apenas nove pessoas e a duras penas. Mais triste é saber que existem centenas precisando de auxilio e a gente não tem como”.

No mês de outubro, foram gastos R$ 12.422,31 com água, luz, telefone, pagamento de funcionários, vale transporte e serviços de manutenção. Parte disso foi coberto por doações em dinheiro (R$ 7.484.00) e alugueis de salas (R$ 5.700,00). O que é insuficiente, pois falta para a alimentação, entre outras coisas.

O QUE PODEMOS FAZER?

Para tentar amenizar a situação a diretoria busca o apoio da comunidade, não só dos santaterezenses, mas de todos os belo-horizontinos.

Recentemente foi implantado o serviço de tele doação, em que é feito contato com as pessoas por telefone e elas são convidadas a participar como sócios contribuintes. Quem quiser se adiantar e oferecer ajuda, pode ligar para (31)3463-7900 e dizer com quanto pode contribuir.

José Pedro também procura parcerias com empresas e pessoas físicas que possam doar produtos alimentícios ou algumas horas de tempo com trabalho voluntário, como médicos, dentistas, psicólogos, enfermeiros e outros, para atender os deficientes carentes, que procuram ajuda da entidade. Já conseguimos apoio de importante Escritório de Advocacia para ajudar na parte legal dos problemas da União dos Cegos (em breve falaremos mais sobre isso).

Quem puder colaborar, financeiramente ou com trabalho, pode procurar o José Pedro na parte da manhã, à Rua Mármore, 664 ou pelo número: 3463-7900.

As doações em dinheiro podem ser feitas na Caixa Econômica Federal, na conta da União dos Cegos Santa Tereza. Agência 0086. Operação 13. Conta número 38081-5.

O santaterezatem vai continuar falando sobre o assunto. Quem tiver ideias e sugestões pode enviá-las para nós. Vamos fazer um grupo informal e auxiliar a UNIÃO DOS CEGOS?

* Informações do historiador Luis Góes.

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