Antigas fotografias evocam memórias e têm o poder de fazer o espectador simplesmente parar no tempo. Tal fascínio arrebata até pessoas que têm o costume de ler essas imagens estáticas, como os fotógrafos. Rodrigo Câmara, de 35 anos, foi uma dessas vítimas,  ao encontrar de forma inusitada uma caixa de negativos velhos.

A história começou há 10 anos, quando Rodrigo, que adora caminhar por aí, encontrou uma caixa com mais ou menos 30 negativos no interior de um velho e nada atraente galpão, no bairro Carlos Prates, região Noroeste de Belo Horizonte. “A caixa estava numa sala que só tinha embalagens de perfumevazias e enquanto olhava para aquelas fotos, tentava buscar recorrências e significados no objetivo de encontrar pistas que jogariam luz ao mistério de quem seriam aquelas pessoas”, conta o fotógrafo.

Ao encontrar a caixa desta maneira despretensiosa, não teve dúvidas. Iria comprá-la, já que poderia ser útil ao seu trabalho. Os anos passaram e a caixa ficou esquecida em meio a outros objetos de pesquisa.

 Contudo, este ano, durante uma reforma em seu estúdio de fotografia, no bairro de Santa Tereza, reencontrou a tal caixa e resolveu, finalmente, descobrir o que ela abrigava. “Eram 30 negativos antigos. Fui para o laboratório, comecei a revelar e notei que tinha, em mãos, algo muito interessante”, diz. De cara, Rodrigo notou que se tratava de fotos de uma família que vivia, provavelmente, na década de 1930, na capital mineira. Em meio às fotos, um papel com um nome: Aristeu.

Entusiasmado com a descoberta e curioso para saber a identificação daquela família, Rodrigo resolveu publicar as fotos no Facebook para que os usuários pudessem ajudá-lo na empreitada. “Enquanto estava postando, fui contatado por uma jornalista que se interessou pela história”, diz. Uma das fotos foi publicada em uma revista semanal de BH e dias depois, duas pessoas, que seriam sobrinhos netos dos personagens entraram em contato com o fotógrafo agradecendo a iniciativa e elucidando o caso.

As fotos são de parte da família Savassi, que ficou conhecida na sociedade mineira por ser dona de uma das padarias mais tradicionais da capital e que acabou dando também nome à nobre região. Nas fotos aparecem, além do senhor Aristeu, a senhora Laurita Savassi, com quem era casado. A senhora Rosa, mãe de Laurita, também está nos registros. “Fiquei sabendo depois que o senhor Aristeu foi um alfaiate muito conceituado na capital mineira”, diz. Agora, o fotógrafo pretende elaborar um álbum para presentear os familiares que entraram em contato.

A história é interessante e lembra até aqueles filmes que envolvem as famosas capsulas do tempo, que são abertas vários anos depois com objetos, fotos, textos, entre outros registros, de uma época distante.

Apaixonado pelo bairro de Santa Tereza, onde vive desde que nasceu, Rodrigo confessa que se tivesse oportunidade colocaria em um baú fotos de pessoas do bairro. “BH está bem registrada em cima da arquitetura, mas ela fica e, as pessoas, não”, afirma.

Atualmente, o fotógrafo se dedica aos trabalhos, de viés mais artístico. E foi com uma dessas produções que elevou seu nome numa esfera internacional ao produzir o cenário para o desfile do também mineiro Ronaldo Fraga, na São Paulo Fashion Week, em 2007. Considerada a cenografia da temporada, a produção ganhou mais de 50 publicações internacionais. “Virou meu cartão de visita”, conta.

E todo este talento já está também se voltando para o bairro. Rodrigo já tem dois projetos no forno e que pretendem valorizar a cultura local, como transformar a Rua Grafito, num corredor cultural com exposições de arte nas garagens. Outra ideia é fazer um trabalho de educação com os estudantes da Escola José Bonifácio, onde estudou na adolescência.

Paralelo a todo este trabalho, o fotógrafo comercializa almofadas com tecidos raros e exclusivos, além de antiguidades. A loja funciona sob seu estúdio à Rua Grafito, 143, em Santa Tereza.

Fotos: Nidin Sanches/Odin e Rafael Campos