Com vocês, Mozart, o às do choro - Santa Tereza Tem
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Com vocês, Mozart, o às do choro

Por Rafael Campos ( matéria publicada em 2013)

De sorriso fácil e exalando simpatia, o violonista Mozart Secundino, ilustre morador do bairro Saudade, região leste de Belo Horizonte, recebeu o Santa Tereza Tem para uma prosa, que se dependesse do entrevistado não teria hora para terminar. Seu parceiro inseparável é o violão de seis cordas adquirido no Rio de Janeiro (RJ), há 25 anos. Sua paixão é o choro.

Mozart no quintal de sua casa no Saudade

Depois de comemorar os seus 90 anos (bem vividos, diga-se de passagem), Mozart olha para trás e se orgulha de sua trajetória, exemplo de superação e de como se deve enxergar a vida. “Não sou de estressar a toa. Não esquento a cabeça com nada”, afirma, dando a entender que este seria o segredo para alcançar o nonagésimo aniversário esbanjando saúde e alegria. Exímio violonista, Mozart é velho conhecido de quem aprecia o tradicional chorinho, que em Belo Horizonte, está atraindo cada vez mais jovens. “Toco muito com esta moçada aí. Uns me chamam até de mestre, mas sei que não sou. Aprendo com eles”, afirma, sem esconder a modéstia.

Mozart em apresentação no Bar Godofredo em Santa Tereza

Sua infância e adolescência foram sofridas, pois teve que trabalhar cedo. Nasceu em Bandeirinhas, distrito de Betim, na grande BH. Com 11 anos, logo depois de chegar com a família em Belo Horizonte, em 1934, foi entregador de marmitas e carregador de compras no Mercado Central. “Durante 20 anos, vendi doces caseiros como cocadas e pé de moleque”, revela.

A música começou a tocar mais alto em seu coração tanto que hoje, quando não está em casa, seu violão é o grande companheiro nas noites belo-horizontinas. Todas as terças-feiras, seu lugar é o bar Godofredo, no Santa Tereza. Faz apresentações no bar A Casa, no Santa Efigênia, e no Minas ao Luar, ao lado do amigo cavaquinista Waldir Silva. “Ele dorme muito durante o dia e a noite vai para gandaia”, brinca uma das filhas, Alana Márcia.  

Hoje, considerado um dos grandes nomes do choro de BH, o autodidata Mozart se lembra das pessoas que o ajudaram no início da caminhada como Bento de Oliveira e o músico Waldomiro Constant, que na década de 1960, era um dos diretores da Rádio Guarani. “Quando faltava um dos músicos do grupo ele me chamava para tocar com ele”, lembra.

Seu choro preferido é “Simplicidade”, de Jacob do Bandolim. “É difícil saber o porquê. Existem melodias que te tocam de tal maneira…”. Simplicidade, de fato, é uma boa característica para conferir ao músico, que já virou tema até de filme, que está para sair. Engana-se quem pensa que seu nome tem ligação com o compositor austríaco. “Foi a filha de um farmacêutico de Bandeirinhas quem sugeriu o nome ao meu pai, por achar bonito e moderno”, diz.

Seu Mozart morreu em 21 de fevereiro de 2015, ainda tocando seu amado violão. (atualização em 22 de fevereiro de 2015)

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