Santa Tereza Tem Memória: Ângelo Victorio Lisa - Santa Tereza Tem
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Santa Tereza Tem Memória: Ângelo Victorio Lisa

(Reportagem feita em 2013 – Ele faleceu em 2016)

A vida de Ângelo Victorio Lisa se confunde com grande parte da história de Santa Tereza. O filho de imigrantes italianos, que chegaram no início do século XX, era conhecido no bairro por “Bolão”. Junto com os irmãos Nico e Chico, esteve à frente de uma oficina que atravessou sete décadas no bairro.

A casa, onde conversamos com Ângelo, é a mesma onde ele nasceu e passou sua vida. A família Lisa chegou ao Brasil na década de 1920, após a Primeira Guerra Mundial, e se instalou em um terreno na Rua Hermilo Alves, que se estendia até a Rua Salinas, onde Ângelo nasceu, em dezembro de 1930.

Foi aí que o pai de Ângelo construiu o prédio onde a família morou, manteve um armazém e posteriormente um bar. Mas o empreendimento mais duradouro foi a oficina, nos fundos do terreno, fundada pelos filhos do italiano.

O ainda menino Ângelo se uniu aos irmãos na empreitada, logo após concluir o grupo escolar, na década de 1940. “Vinha muito carro antigo, Ford 29, calhambeques . No fim dos anos 40 é que começaram a aparecer carros mais novos”, conta ele.

Certa vez, para obter peças para a oficina, os irmãos  compraram um Fusca da década de 30. A Oficina São Francisco, depois rebatizada como Volks Lisa, encerrou suas atividades em 2005,, após o falecimento dos irmãos de Ângelo. “No fim, era só eu e o Nico”, relembra.

A esposa Geni, Ângelo e a filha Ana Paula Lisa

Santa Tereza, segundo ele, era um bairro mais tranquilo, embora muita coisa se mantenha. “É a mesma coisa que taí, só com menos carros. O bairro ficou mais cheio porque construíram muitos prédios. Antes até o comércio era pouco, e tinha muitos imigrantes italianos e portugueses e militares”.

Como era Santa Tereza

A relação das pessoas era mais próxima: os irmãos Lisa assavam um pernil no Natal e outro no Ano Novo e festejam com clientes, amigos e familiares. Aliás, comida era algo que não faltava na oficina, garante a esposa de dele, Geni. “Era churrasco, peixe assado todo dia. Um ficava cozinhando enquanto os outros trabalhavam. Depois do expediente eles se juntavam e tomavam uma cerveja, também”, conta.

Desde sempre, Santé já revelava ser um bairro de festa. O casal rememora diversas serestas na praça; falam de um campo de futebol no quartel da Polícia Militar, onde as pessoas se reuniam para ver as partidas do bairro; matinês no cinema de Santa Tereza; namorar na praça e fazer serenata para as namoradas… Além disso, o carnaval, com vários blocos de rua.

A Oficina São Francisco, depois rebatizada como Volks Lisa – foto dos irmãos

Angelo faz questão de frisar que acha que o bairro melhorou muito desde sua infância, lembrando dos tempos em que o Córrego da Mata corria aberto por onde hoje é a Avenida Silviano Brandão, ou das favelas que já surgiam na capital mineira. “Da Rua Eurita para baixo, era uma favela, casas muito simples. Mas acho que, graças ao quartel, o bairro sempre foi muito tranquilo”. Onde hoje é a Avenida Flávio dos Santos era, antes, um campo de futebol de várzea. “Ali era tudo mato antes de abrirem as ruas, tinha uma favela dali até a linha do trem, perto do Centro”, afirma ele.

Brincadeiras de criança

Numa época em que a cidade era menor, muitas coisas eram diferentes. Era mais fácil brincar na rua, garante Ângelo. “A gente ia lá embaixo tacar pedra no trem! Ou então, pegávamos traseira e íamos até Sabará. Coisa de menino, né? A gente soltava pipa, corria na praça, jogava bola nas ruas. Aí alguém gritava ‘olha o carro, olha o bonde’ e a gente esperava passar, mas era bem de vez em quando”, conta, entre risos.

São pessoas como Ângelo que guardam a melhor parte da história de Santa Tereza e da cidade. Para a filha dele, Ana Paula, ouvir essas histórias e registrá-las é muito importante. “Assim como a restauração do cinema, tem que resgatar essas histórias do bairro”, afirma.

Você tem alguma lembrança ou “causo” do bairro para contar, ou conhece alguém que saiba? Entre em contato com o Santa Tereza Tem – porque esse bairro ainda tem muita história para contar.

Obs: Seu Ângelo Victorio Lisa faleceu em 2016

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