Natureza impressa na cerâmica de Eliane Maia - Santa Tereza Tem
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Natureza impressa na cerâmica de Eliane Maia

Na Série Ateliês de Santê você vai conhecer o trabalho da ceramista Eliane Maia.

*Reportagem e imagens de Marlyana Tavares

Com um olho na copa das árvores e o outro no chão, a ceramista Eliane Maia, moradora de Santa Tereza, dá início ao processo de criar lindas peças decorativas e utilitárias em cerâmica.

 Eliane recolhe as folhas do chão para imprimi-las no barro e usa a inspiração da natureza para colorir relevos e nervuras dos vegetais com corantes minerais, óxidos de ferro, engobes e esmaltes. É um trabalho primoroso, ela transporta ao universo primordial, em formas e cores únicas.

Eliane Maia

As peças menores têm estampa de uma só folha, outras contêm vários exemplares, formando um mosaico lindo. São cumbucas, travessas, xícaras, quadros, vasos e esculturas decalcadas com espécies da Mata Atlântica, do Cerrado e dos campos rupestres. Pequi, gameleira, gabiroba, são algumas delas. Os azuis, verdes, amarelos, vermelhos e uma miríade de tons terrosos remetem às árvores e montanhas de Minas, amadas pela artista plástica.

 Várias folhas usadas são de espécies achadas durante suas caminhadas pelas ruas e praças de Santa Tereza: ipê amarelo, pata de vaca, pau brasil, magnólia, pau-formiga e ipê mirim estão entre eles.

Eliane também faz esculturas lindas que retratam as serras e seus relevos, em conjunto com o ambiente urbano. “Uso os óxidos diretamente na peça, por exemplo, o minério de ferro é que dá esse tom avermelhado, uso também o óxido de manganês, óxido de cobre”, explica. 

“O contorno das montanhas nas cidades é uma coisa que sempre me atraiu. Na minha terra, o Serro, tem uma variedade enorme de picos e serras e a família sempre passeou nesses lugares, Pedra Lisa, Pedra Redonda, Pico do Itambé, além de muita cachoeira”, descreve, sem deixar de transparecer consternação com o efeito da mineração nas mudanças do cenário natural, citando tanto a Serra do Curral, quanto aquelas que presencia em suas viagens ao Serro.

A inspiração

A habilidade de Eliane em transformar as plantas vem de pequena. Na fazenda no Serro, brincava de fazer enxovais, colares, brincos, em cima do pé de manga, recortava a folha da mandioca para fazer cordõezinhos”, lembra. Gostava de  desenhar árvores, plantas, observar os movimentos dos troncos e a mudança das estações. “A gente acompanhava as frutas e flores de cada época; agora, por exemplo, fica tudo perfumado, cheio de flor, a gente sente a primavera chegar, se está em contato com a natureza”. 

Na capital, estudou Design de Produtos, Artes Plásticas e trabalhou 20 anos como professora infantil no Colégio Logosófico. Na faculdade, sempre se identificou com a cerâmica ao fazer a modelagem – um relaxamento nas noites de sexta-feira. Paixão que se estende por 17 anos.

O barro (argila) é o material básico de trabalho, mas são as folhas que lhe dão vida. Ao selecionar as folhas, ela considera as texturas, as nervuras, as formas. “Amasso, modelo, faço tudo manualmente e imprimo as folhas no barro quando ele está bem hidratado. As folhas têm que estar verdes para sair sem quebrar. Quando viajo para a fazenda, no Serro, colho muitas plantas. Lá, estamos na Serra do Espinhaço, então tem uma mistura de cerrado com Mata Atlântica”.

A hora de abrir o forno é sempre um acontecimento. Nunca se sabe ao certo como vão ficar as peças – queimadas a 1,2 mil graus no forno elétrico – se mais claras, mais escuras. São 14 horas de queima e mais 24 horas para esfriar. A ceramista também faz a queima à lenha de algumas peças.

Exposições

Eliane  participa de várias exposições, feiras e salões no Brasil e no exterior. Em comemoração ao 120º aniversário do Parque Municipal Américo René Gianetti, fez uma exposição com peças feitas com folhas de árvores da maior área verde da capital, intitulada Folhas de Minas. Outra mostra foi sobre a Serra do Curral, Jardins da Serra, quando apresentou um mostruário com 30 espécies de plantas relacionadas ao maior monumento natural da capital. “Fiz vários vasos e cumbucas”, conta.

Eliane vai estar com suas obras na tradicional Feira de Cerâmica de Minas, nos dias 01,02 e 03 de dezembro próximo, no Mercado Central de BH

Se você quiser conhecer mais dessa arte, eu atelier fica à Rua Eurita, mas ela também expõe suas peças nas duas lojas do Bem Mineiro (no CCBBe no Museu de Mineralogia)e no Centro de Artesanato, que fica no Palácio das Artes. Seu perfil no Instagram é @elianemaia_ceramica e ela atende pelo Whatsapp 988532832.

*Marlyana Tavares é jornalista e colaboradora voluntária do Santa Tereza Tem. Trabalhou por muitos anos no jornal Estado de Minas, em várias editorias e principalmente no Caderno de Turismo, do qual foi editora.

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