Ateliês de Santê: Os Fuxicos da Lúcia - Santa Tereza Tem
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Ateliês de Santê: Os Fuxicos da Lúcia

Reportagem Isa Patto

Santa Tereza é conhecido pela boemia, pelos artistas e músicos, pelos eventos na praça, mas aqui também tem “fuxico”. Calma, não é o que você está pensando, a fofoca, falar da vida alheia.  Falamos de uma técnica artesanal, que remonta há pelo menos 150 anos e aproveita restos de tecido. É uma trouxinha de panos, feita costurando um círculo recortado. O nome fuxico surgiu por causa das mulheres do interior do Nordeste do Brasil, que se reuniam para costurar e aproveitavam para fazer intrigas e mexericos.

Lúcia Torido – Foto Isa Patto

Em Santa Tereza também tem fuxico, o trabalho de Maria Lúcia Riberio Vaz Torido, a Lúcia, como é mais conhecida. Nascida e criada em Santê, na Rua Barão de Saramenha, ela é pedagoga de formação, sempre trabalhou com educação infantil e desde 2012, abandonou a educação e faz trabalhos manuais, especialmente o fuxico.

Depois que se casou, mudou-se para o bairro Cidade Nova e após 10 anos retornou para Santa Tereza de onde nunca mais saiu. Ela conta que voltou para morar com sua vó, que veio para Belo Horizonte e escolheu o bairro para ficar perto da mãe de Lúcia.

“Vim com meu marido e filhos morar com minha avó e uma tia, que tinha uma deficiência mental. Voltar para o bairro foi muito bom para todos nós, pois como meus pais moravam aqui perto, a família de reuniu novamente. Nessa época, mesmo cuidando de minha avó e minha tia, continuei trabalhando como pedagoga e só parei quando minha mãe adoeceu”, lembrou.

Lúcia e o fuxico

Sua história como artesã começou por isso. Sua mãe adquiriu uma doença degenerativa grave e precisou de cuidados. “Na época parei de trabalhar fora, mas para quem sempre trabalhou ficar parada é difícil. Foi quando eu comecei a fazer trabalhos manuais”.

“Eu me lembrei de uma exposição que tinha feito na escola com trabalhos artesanais de pais e avós dos alunos. Na ocasião fiquei encantada com um jogo de descanso de panela feito de tampinha de garrafa com fuxico. Nunca havia feito nada de artesanato, mas resolvi fazer um  igual. Pedi as tampinhas em um bar, uma amiga costureira me arrumou alguns retalhos de tecido e comecei a fazer para presentear amigos e familiares”, contou.

Segundo Lúcia, foi a partir daí que sua produção começou, não só de fuxico, mas de vários tipos de peças em tecido, pois as pessoas começaram a encomendar, dar sugestões e com a ajuda do filho criou a LR Artesanatos Fuxico.

Ela conta que “como eu não podia sair de casa, praticamente aprendi tudo pela internet, pesquisando e fazendo cursos. Não sou costureira, mas eu costuro. O que gosto mesmo é do fuxico e tudo que faço sempre tem que ter um”.

Seus produtos são criativos, bonitos e ainda ela aproveita materiais que seriam descartados no lixo, como retalhos, CDs e discos “cebolão”.

Feira Entre Amigos

Nessa época, a agora, artesã começou a participar da feira de artesanato que tinha na Praça de Santa Tereza. Quando a feira foi proibida, coincidiu com a piora da mãe, que logo depois faleceu. “Como estava há muito tempo cuidando dela, parei um período para descansar e quando voltei a fazer minhas coisas queria novamente expor e vender”

Foi então, ela explica, “que meu marido, o Iraê, deu a ideia de usarmos o quintal daqui de casa, que é espaçoso. Uma amiga emprestou as tendas, chamei algumas amigas artesãs, artistas e assim surgiu a Feira Entre Amigos“.

Na feira são expostos e comercializados trabalhos em tecido, madeira, papel, produtos de decoração, plantas, bijuterias. Ela tem esse nome justamente por que é uma reunião entre amigos. Lúcia faz questão de frisar que a Feira tem a mão de sua nora, Renata vidal, que também é moradora de Santa Tereza.

A Feira Entre Amigos acontece desde 2016, sempre aos sábado, uma vez por mês. Um pequeno valor é cobrado dos participantes para pagar os custos com o aluguel das mesas, cadeiras e tendas.

Lúcia fala que a ideia é proporcionar um espaço para que todos possam expor e ganhar com os produtos que fazem. Ela explica que “é um sábado gostoso que a gente passa com os amigos, não só para vender mais mostrar o que produzimos, trocar experiências e fazer novos contatos”

Feira Entre Amigos

A Feira também tem o lado social, pois são feitas campanhas para ajudar entidades aqui do bairro. Recentemente, ela conta que “começamos com a doação de animais. Entramos em contato com instituições protetoras e conheci a Marta, moradora daqui de Santa Tereza, que  participa do Pet Monitora. Quando tem feira eles vêm e trazem animais para doação”.

Voltar pra Santê foi tudo de bom

Lúcia confessa que depois de 10 anos longe de Santê, a melhor coisa que fez foi voltar. Para ela, o bairro é como uma cidade do interior, onde as pessoas se cumprimentam, conversam na rua, dão bom dia e ajudam quando necessário.

“Meu marido também é daqui e foi onde praticamente criamos nossos dois filhos. É um lugar onde se aprende a ser solidário, porque para mim Santa Tereza é sinônimo de solidariedade. Mesmo sem te conhecer direito, as pessoas daqui, quando veem que você está com algum problema, oferecem ajuda. Existe companheirismo, existem histórias de vida, principalmente dos moradores mais idosos. Tenho e sempre vou ter essa relação afetiva com o bairro”, observa ela.

Para quem quiser conhecer o trabalho de Maria Lucia é só acessar o site www.lrartesanatosfuxico.com.br  ou seu Facebook/ LRArtesanatoFuxico

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