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O patrimônio vivo, na série: Mas afinal, o que é patrimônio cultural?

*Por Ana Beatriz Mascarenhas

Na semana passada, falamos da Paisagem Histórica Urbana, uma ferramenta holística e interdisciplinar, compreendendo a cidade como um espaço composto por diversas camadas e sua interconexão de valores.

Assim, considera os aspectos naturais e culturais, tangíveis e intangíveis, regionais e locais presentes nas cidades. Além disso, busca integrar diferentes disciplinas para a análise e planejamento do processo de conservação urbana a fim de integrá-lo ao planejamento e desenvolvimento da cidade.

O que é o Patrimônio Vivo

O conceito e abordagem de patrimônio vivo foram desenvolvidos no âmbito do Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro de Bens Culturais – ICCROM – em 2003, como parte de suas atividades no programa de Conservação Territorial e Urbana Integrada, enfatizando as dimensões vivas dos sítios protegidos como patrimônio.

As dimensões vivas que contêm e sustentam diversas atividades socioculturais são consideradas tão importante quanto o tecido material. Dessa maneira, promove-se o reconhecimento e a relevância desse patrimônio para a vida contemporânea, incluindo os benefícios e interesses das pessoas e sua capacidade de se engajar em cuidados contínuos com a cidade.

Apesar da semelhança com a abordagem da Paisagem Histórica Urbana, referente à compreensão de que as mudanças fazem parte do patrimônio pelo dinamismo do ambiente urbano, se difere em relação ao papel das pessoas, sobretudo no que diz respeito daquelas que cuidam diretamente do patrimônio. Na abordagem do patrimônio vivo, a comunidade central, ou seja, aquela que mantém o cuidado contínuo do patrimônio, utilizando os meios tradicionais, é responsável por sua conservação e gestão.

A abordagem do patrimônio vivo é geralmente usada em locais de adoração como templos, monastérios, etc.; locais de expressões como festas, práticas, romarias e outros; assim como locais em que determinados modos de fazer têm associação direta com a cultura local, como no caso dos “terraços de arroz” em Bali, Indonésia.

Terraços de arroz na Indonésia – Crédito: THE BALI BIBLE

Isso significa que o patrimônio vivo está fortemente associado a uma comunidade (denominada “comunidade central”), que pode assumir a responsabilidade pela manutenção do patrimônio por meios tradicionais (ou mesmo instituídos). Além disso, o patrimônio está vinculado ou tem relevância para a vida contemporânea da comunidade. Neste sentido, as transformações – tanto no ambiente construído assim como os valores atribuídos ao local – são passíveis de serem incorporadas.

A minha tese de doutorado tem como objetivo analisar se o conceito e abordagem do patrimônio vivo se aplica ao bairro Santa Tereza, visto que a sua proteção como Conjunto Urbano abarca justamente a associação existente entre os modos de vida e o ambiente construído. Além disso, trato também da participação da população no processo de proteção e gestão de áreas de interesse cultural uma vez que é um aspecto importante do conceito de patrimônio vivo.

O artigo da semana que vem tratará justamente da participação dos cidadãos nesses processos.

Referências

THE BALI BIBLE. Unesco world heritage Tegalalang tour rice terraces. Disponível em:< https://www.thebalibible.com/activities/unesco-world-heritage-tegalalang-tour-rice-terraces-22032 >. Acesso: 02, set. 2022.

*Ana Beatriz Mascarenhas é arquiteta e urbanista pós-graduada em Gestão Cultural pelo Senac de São Paulo. É mestre pelo programa de pós-graduação em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável da UFMG no qual é doutoranda. É idealizadora, coordenadora e curadora do Festival Cine Identidade & Memória desde 201

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