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BH e a barbárie cultural

A municipalidade tem tratado mal a memória dos nossos grandes escritores

*Por Jorge Fernando dos Santos

Belo Horizonte sempre foi reverenciada pelo talento de seus grandes escritores. Quem convive nos meios literários sabe da admiração que autores e estudiosos de outras plagas nutrem por nossos poetas e ficcionistas. No entanto, a municipalidade tem tratado mal a memória dessa gente, haja vista as agressões aos monumentos projetados em sua homenagem pelo artista plástico Leo Santana.

Recentemente, a imprensa e as redes sociais mostraram o estrago feito à estátua da acadêmica Henriqueta Lisboa, num dos quarteirões fechados da Rua Pernambuco, em plena Savassi. O monumento teve a cara pichada e as mãos e o livro que segurava arrancados por um homem, cuja ação foi flagrada por uma câmera. A Guarda Municipal passou as imagens à Polícia Civil, mas, até agora, não há novidades sobre o caso.

A dois quarteirões dali, na Rua Antônio de Albuquerque, há vários meses a estátua de Roberto Drummond guarda marcas de tinta deixadas em suas costas por algum moleque sem noção de civilidade. Em ambos os casos, a Prefeitura Municipal ainda não tomou nenhuma providência no sentido de reparar os danos causados aos monumentos.

Estátua de Carlos Drummond de Andrade está sem a mão direita há mais de três anos | Jorge F.

Estado indiferente

A estátua de Carlos Drummond de Andrade ao lado da de Pedro Nava, na Praça Professor Alberto Deodato, no Centro da cidade, está sem a mão direita há mais de três anos. Consta que um guarda municipal percebeu a mão pendente e a retirou para evitar que fosse roubada. Ela estaria guardada na sede da PBH, a alguns metros dali. O monumento fica a um quarteirão da Secretaria Municipal de Cultura, que nada fez a respeito.

O pior, no entanto, ocorreu com a estátua do contista Murilo Rubião. Inaugurada há menos de três anos em frente à Biblioteca Pública Estadual, na Praça da Liberdade, ela foi arrancada do pedestal e abandonada no chão, no ano passado, e até hoje não foi recolocada no lugar. Nesse caso, a ação depende do apoio da Secretaria de Estado da Cultura, que parece pouco interessada no assunto.

O próprio aspecto do prédio projetado por Oscar Niemeyer e do jardim à sua volta reflete o abandono em que se encontra a famosa biblioteca, que integra o patrimônio cultural do Estado. Enquanto isso, o conjunto com as estátuas de Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pelegrino e Paulo Mendes Campos serve de cama para moradores de rua que por ali acampam.

Todo esse quadro reflete a barbárie que assola o país. Nunca antes na História nacional a cultura e a memória foram tão vilipendiadas. E não apenas no que diz respeito aos governos, em níveis federal, estadual e municipal. A preservação dos bens do patrimônio público também depende do cidadão comum. Os políticos, no entanto, parecem cada vez mais interessados em manter o povo na ignorância. Afinal, se a maioria dos eleitores fosse bem-educada, muitos deles nem seriam candidatos.

*Jorge Fernando dos Santos – Jornalista, escritor e compositor, tem 46 livros publicados. Entre eles, Palmeira Seca (Prêmio Guimarães Rosa 1989), Alguém tem que ficar no gol (finalista do Prêmio Jabuti 2014), Vandré – O homem que disse não (finalista do Prêmio APCA 2015), A Turma da Savassi e Condomínio Solidão (menção honrosa no Concurso Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte 2012

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