Santa Tereza tem memória: A casa verde - Santa Tereza Tem
Logo

Santa Tereza tem memória: A casa verde

Uma casa chama a atenção na Rua Professor Raimundo Nonato, não só pela sua cor, toda verde, mas pelo cuidado, pelo lindo jardim e pelo Joca, um cachorrinho fofo que fica tomando conta da rua pela grade. É a casa da Dona Elza de Alencar Gonzaga, que aos 95 anos esbanja saúde, alegria e com seu sorriso transmite paz, de sua filha Vanda e do inseparável amigo delas, o Joca, que foi resgatado das ruas.

Uma história de muito amor e trabalho. A construção erguida pouco a pouco e Dona Elza dava duro na cozinha, fazendo seus famosos salgados para, junto com o marido Cláudio Gonzaga, serralheiro e também funcionário do DER, terminar a casa, onde criaram grande família, de sete filhos.

Quem conta é a Vanda, que fez muita unha e cortou muito cabelo para ajudar nas despesas. “A casa foi construída no final dos anos 60 e início de 70. Meu pai herdou o lote, cheio de barracõezinhos, quando meu avô, que tinha vários imóveis no bairro faleceu. Cada um de meus tios ficou com um imóvel. Pra gente coube o lote”.

Mas quem pensa que foi fácil fazer a construção está enganado. “Foi tudo feito devagar. Meu pai desenhou a planta e, como serralheiro, fez as grades, janelas portões e porta de entrada, que estão perfeitos até hoje. A obra demorou muito e nós viemos morar aqui, antes de terminá-la”

Ela relembra que “a rua não é como é hoje. Era um buracão, chamado de barroca. Na época, do início da construção, a gente morava na Avenida Silviano Brandão e quando meus irmãos e eu passávamos por aqui para ir estudar no Grupo Escolar José Bonifácio, achávamos essa obra uma loucura, muito perigoso pelo lugar ser esse buraco e também porque quase não havia casas nesse pedaço”.

Tudo muda

“Aos poucos a casa ficou pronta, a rua foi aberta, outros vizinhos foram chegando, como a Dona Aparecida Cruz, aqui do lado e tudo ficou bem”, diz Vanda, que sente falta da vizinhança, já que muitos faleceram e as casas vendidas e deram lugar aos prédios de três andares.  “Oh, meu Deus, eu às vezes sento aqui na porta e penso que quase não tem mais ninguém das antigas, vários dos vizinhos morreram e, os novos, não tem esse mesmo espírito do bairro, principalmente os que vivem em prédios.  A impressão é que são fechados e a gente quase não vê eles, e além disso essa pandemia também ajudou o isolamento. Bem diferente, de quando a gente sentava na calçada e ficava conversando e um vizinho ajudava o outro. Tudo muda”.

Vanda junto da nova árvore plantada pela turma do Arboriza BH “A gente foi criada entre plantas e árvores e adoramos o verde. Por isso quis uma árvore na nossa porta”.

Entretanto, apesar da saudade e das mudanças inevitáveis, ela continua apaixonada pelo bairro e diz que Santa Tereza continua sendo bom lugar pra se viver e que não troca por nenhum outro.

Atualmente, Vanda se aposentou do trabalho de manicure e cabeleireira. Gosta de frequentar o Sesc, onde aprendeu fazer artesanato e faz parte do coral da instituição. Ela comenta com uma risada boa “hoje não quero saber de trabalhar mais, só quero sossego. ”

Anúncios