Fotos: Eliza Peixoto, arquivo público e capa de Júlia Duarte
Texto: Arquiteta Ana Beatriz Mascarenhas
Para entender o estilo arquitetônico da Igreja de Santa Teresa e Santa Teresinha, no bairro Santa Tereza, é preciso voltar um pouco na história. A presença da Igreja Católica no Brasil remete ao início da colonização pelos portugueses e se intensifica com a chegada da Companhia de Jesus em 1549. Para além da difusão cultural-ideológica e práticas de catequização, a Igreja Católica possuía larga influência política e social, determinando a formação do espaço urbano.
Neste sentido, sua presença promovia a formação de vilas e cidades visto que a oficialização de um núcleo urbano estava subordinada à construção de uma capela e, para sua promoção a vila ou cidade, tornava-se necessário a visita de uma cura.
Essa condição perdurou por toda época colonial e, mesmo quando a escolha para a nova capital de Minas Gerais já no período Republicano a Igreja Católica era ainda bastante influente.
O arraial do Curral del Rey contava, no final do século XIX, com três outras capelas, além da Igreja da Boa Viagem – a capela do Rosário, localizada no encontro das ruas Guajajaras, Espírito Santo e Avenida Álvares Cabral, demolida em 1897; a Capela de Sant’Anna ou Santana, localizada próximo à Praça da Liberdade e demolida em 1894; e a Capela de São João Batista, cuja existência e localização são incertas.
A antiga capela Igreja da Boa Viagem, fora uma capela até os meados do século XVIII, sendo substituída por uma edificação maior a fim de comportar o crescente número de fiéis. Esta nova construção, que possuía a mesma invocação da anterior, abrigaria a Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem que, por sua vez, seria demolida e reinaugurada em 1925.
Embora o traçado de Belo Horizonte refletisse os ideais republicanos, a prática de conquista territorial pela Igreja Católica se manteve como no período colonial. Dessa maneira, as diversas ordens e congregações buscavam conquistar seu espaço dentro do território da nova capital.
A denominação de vários bairros da cidade evidencia essa questão – Santa Efigênia, Santo Antônio, São Pedro, Carmo (Nossa Senhora do Carmo), Lourdes (Nossa Senhora de Lourdes), entre outros.
Dentre essas inúmeras paróquias, a de Santa Teresa e Santa Teresinha não foi exceção. Criada pelo decreto de 25 de dezembro de 1930, assinado por Dom Antônio dos Santos Cabral, se estabeleceu inicialmente à rua Gabro, em uma casa que existe até hoje.
A pedra fundamental foi lançada em outubro de 1931, onde é atualmente a porta principal da Igreja. Em 1932, começou a construção do projeto assinado pelo fotógrafo, desenhista, pintor e professor da Escola de Belas Artes em Belo Horizonte João Almeida Ferber, com inspirações no barroco mineiro.
A transferência da paróquia para a igreja se deu em 1935, mesmo com o templo inacabado. Nesse período as celebrações eram feitas no porão, cuja entrada era pela Rua Eurita. A construção da obra somente seria concluída no final da década de 1950.
O barroco foi o principal estilo artístico do período colonial brasileiro, sobretudo a partir da segunda metade do século XVI. Ao contrário da simetria e racionalidade da arquitetura renascentista, a arquitetura barroca buscava dar ideia de movimento por meio de irregularidades de proporção, texturas e outros elementos decorativos. Além disso, a suntuosidade e grandeza são marcantes.
No barroco tradicional, as plantas das igrejas possuíam espaços ovalados, a fim de causar ideia de centralidade; as fachadas poderiam ser côncavas ou convexas, além de bem ornamentadas; e as aberturas, muitas vezes, possuíam formas incomuns como losango, estrela, oval ou círculo – e os frontões, mais curvas, relevos em pedra e estatuária.
A partir de meados do século XVIII, principalmente em Minas Gerais, quando o ciclo do ouro entra em decadência, a construção de igrejas mescla o barroco e rococó. A monumentalidade é substituída pela discrição sem privar-se da elegância.
O que se percebe na Igreja de Santa Tereza e Santa Terezinha é que, apesar da inspiração barroca, o edifício resultou em uma mistura de estilos, denominado eclético. A inspiração barroca é percebida na composição do frontispício e as torres semelhantes a do Santuário de São João Batista em Barão de Cocais.
As aberturas inusitadas nas torres também remetem ao barroco, cujas cúpulas em formato de elmo são características das igrejas ortodoxas russas, que simbolizam a luta espiritual contra as forças do mal. No entanto, a cor verde deveria ser em homenagem ao Espírito Santo, segundo a tradição ortodoxa russa.
O interior da igreja entretanto, não reflete a riqueza dos templos barrocos; ao contrário retrata a simplicidade, despojamento e despretensão. Mesmo assim, constitui-se num dos principais marcos do bairro e símbolo de sua gênese.