Três anos da Rede Lixo Zero - Santa Tereza Tem
Logo

Três anos da Rede Lixo Zero

Rede Lixo Zero Santa Tereza três anos reciclando a vida

Outubro chega e as famílias do Santa Tereza celebram mais um aniversário do bairro e das padroeiras que o abençoam. A par dessas comemorações, pedimos licença para compartilhar mais uma alegria: a Rede Lixo Zero Santa Tereza completa seu terceiro ano de existência.

Cartaz Lixo Zero

Embora, parte dos operadores e assessores da rede não morem por aqui, o sentimento é de que já somos vizinhos. Por isso, agradecemos o acolhimento de tantos e tantas moradoras, que nos brindam com sua colaboração em nossos encontros cotidianos. São essas relações que cultivam em nós a confiança em um horizonte melhor!

Durante este mês, em parceria com o Santa Tereza Tem, vamos compartilhar um pouco da nossa história e ações. Acreditamos ser um momento oportuno para refletir sobre muitas questões que os moradores nos colocam e que queremos responder com a devida atenção.

Nesse tempo tão difícil em que vivemos, convidamos vocês a sonhar conosco, na busca pelo bem viver em vizinhança. Essa construção em rede tem sido uma grande escola para nós, em que aprendemos a respeitar os limites uns dos outros e encontrar formas de cooperação nas diferenças.

E, assim, esperamos continuar!

Rede Lixo Zero

Os primeiros passos: a construção colaborativa da coleta seletiva

Era 2014 e Minas Gerais vivia a ameaça da incineração. O executivo do estado tentava, desde 2012, implementar uma proposta de Parceria Público-Privada (PPP Resíduos), que pretendia abrir caminho para que usinas de queima de lixo fossem implementadas por aqui, com a justificativa de gerar energia e ganhos econômicos.

Sabe-se, porém, que a queima de lixo é uma prática de alto teor de contaminação dos ares e que a operação de uma incineradora gera pouquíssimos empregos.

Rede Lixo Zero na Câmara Municipal

Além disso, em um país onde a maioria dos resíduos sólidos produzidos é orgânica, tampouco seria uma solução para destinação destes na cidade. Somado a todos esses efeitos negativos está aquele que nós, integrantes da Rede Lixo Zero, compreendemos como o mais perverso: a incineração significaria a redução da renda, o desemprego e a exclusão social de milhares de catadores e catadoras de materiais recicláveis.

Ou seja, por um lado teríamos uma proposta tecnológica ambientalmente insustentável, socialmente excludente e de pouquíssimo ganho econômico; do outro, um processo em que há milhares de pessoas ocupadas, contribuindo para a redução do uso de aterros sanitários e lixões e construindo, em todo o país, redes de inclusão social pelo trabalho.

Foi nesse contexto que o Observatório da Reciclagem Inclusiva e Solidária (ORIS) aprofundou a reflexão sobre a perspectiva do Lixo Zero. O ORIS é um fórum que reúne vários grupos e pessoas interessadas na melhoria das condições de trabalho dos catadores no Brasil e no reconhecimento do valor social e ambiental de seu trabalho.

Cartaz convite para reunião

A ideia seria pensar uma alternativa tecnológica para as cidades brasileiras em que todos os resíduos fossem reaproveitados, partindo de uma organização do trabalho mais solidária e do envolvimento dos cidadãos nesse processo. Uma questão pairava, porém: por onde começar?

Santa Tereza

Olhávamos para o Santa Tereza como um bairro especial, onde um projeto piloto poderia ser construído. Suas ruas movimentadas, sua vida cultural pujante e sua resistência na conservação de um estilo de vida mais comunitário no centro da capital eram – e são – referência para muitos de nós, que buscam construir um horizonte mais belo.

Reunião com os primeiros moradores no EMPLO

Como uma primeira abordagem, o ORIS buscou a Associação Comunitária do Bairro, grupos de artistas interessados no tema e moradores que acreditavam que esse seria um projeto benéfico para a comunidade.

Enquanto realizávamos essas primeiras ações, fomos pegos por uma grata surpresa: a iniciativa de educadores da Escola Municipal Professor Lourenço de Oliveira (EMPLO), de entrar em contato com a Coopesol Leste – cooperativa de catadores, localizada no bairro Granja de Freitas – para a realização de um projeto ambiental com os estudantes.

Lançamento da Rede com desfile pelo bairro

A ideia seria implementar uma coleta seletiva na escola, como uma forma de introduzir a questão no cotidiano dos alunos e funcionários. A partir dessa iniciativa pedagógica constituiu-se a Rede Lixo Zero Santa Tereza, em outubro de 2017.

Adesão dos moradores

A primeira ação foi a implantação de uma coleta seletiva de recicláveis secos. A Coopesol Leste (Cooperativa Solidária de Trabalhadores e Grupos Produtivos da Região Leste), responsável por esse serviço, solicitou à EMPLO, que mobilizasse o quarteirão do entorno da escola: já que o caminhão coletor iria descer do Granja de Freitas, seria desejável que não voltasse vazio. Sendo assim necessário envolver mais pessoas do bairro.

Caminhão coletor começa o recolhimento de resíduos sólidos

O receio, de não encher o caminhão, se esvaiu rapidamente. Pouco a pouco, a palavra correu no bairro e passados apenas dois meses do início da coleta, no quarteirão da escola, já eram 11 ruas atendidas e mais de mil famílias! Os resíduos recicláveis, coletados às segundas-feiras pela manhã, eram encaminhados para o galpão da cooperativa, pré-processados e comercializados, gerando renda para as mais de 40 famílias de catadores reunidas na Coopesol Leste.

De lá pra cá, muitas águas rolaram e, em apenas um relato, ficaria difícil contar essa história. Nas próximas semanas, pretendemos apresentar outros momentos marcantes desse processo que, mesmo em pandemia, continua a cultivar esperanças do bem viver em vizinhança!

Anúncios