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As grandes pandemias

O coronavírus não é a primeira nem será a última peste a ameaçar a humanidade

Em 1919, a Gripe Espanhola matou cerca de 16 mil pessoas no Rio de Janeiro

Em 1919, a Gripe Espanhola matou cerca de 16 mil pessoas no Rio de Janeiro (Biblioteca Nacional)

*Por Jorge Fernando dos Santos

O coronavírus não é a primeira nem será a última peste a ameaçar a humanidade. A Bíblia nos fala de muitas delas, das sete pragas do Egito aos cavaleiros do Apocalipse. Em tempos de pandemia, resta-nos aprender com a doença. O isolamento é fundamental nesta hora.

Na Idade Média, a peste bubônica, que passaria à história com o nome de peste negra, dizimou um terço da população europeia. Transmitida pela pulga do rato, a doença veio do Oriente médio e levou místicos e religiosos a anunciarem o final dos tempos.  

No início dos 1500, foram registrados os primeiros casos de sífilis na Europa. Muitos antropólogos acreditam que ela foi levada por navegadores da frota de Colombo, que a contraíram em relações sexuais com nativas americanas.

Somente em 1905 a ciência descobriria a bactéria triponema pallidum, transmissora da doença. Em troca, os conquistadores deixaram para trás muitas enfermidades que os índios desconheciam, como a gripe, o sarampo, o tifo e a malária, que dizimariam aldeias inteiras no Novo Mundo.

Já entre 1889 e 1890, a chamada gripe russa, surgida no Uzbequistão, alcançou populações em todos os continentes. Transmitida pelo vírus H2N2, provocava pneumonia e febre muita alta. Essa pandemia causou em torno de 1,5 milhão de mortes em redor do planeta.

Peste branca

Ainda nos dias de hoje, a tuberculose pulmonar tira o sono e a vida de muita gente. Segundo a OMS, só em 2016 cerca de 1,7 milhões de pessoas morreram da doença em vários países. Causada pelo bacilo de Koch (bactéria mycobacterium tuberculosis), tornou-se vulgarmente conhecida no Brasil como tísica ou peste branca.

Dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2018, foram registrados 73 mil casos de tuberculose no país. No século passado, a tísica infectou inclusive gente famosa, como os compositores Noel Rosa e Lamartine Babo; o jornalista e escritor Nelson Rodrigues; e o poeta Manuel Bandeira – para quem, diante a doença, “a única coisa a fazer é tocar um tango argentino”.

Contudo, a maior pandemia dos últimos 100 anos foi a gripe espanhola. Surgida na Europa, no final da Primeira Guerra (1914-18), a doença era causada pelo vírus Influenza e não demorou a se espalhar. Temendo o pânico entre suas tropas, os Estados Unidos não quiseram divulgá-la. A neutra Espanha foi quem fez o alerta, vindo daí o nome da peste.

Calcula-se que a “mãe das pandemias” infectou 27% da humanidade. O número de mortos varia de 50 milhões a 100 milhões, dependendo da fonte de informação. Um dos países atingidos foi o Brasil. Só no Rio de Janeiro, em 1919, a doença matou cerca de 16 mil pessoas – entre elas o presidente eleito no ano anterior, Rodrigues Alves, que não chegou a tomar posse.

Situação atual

Entre 1957 e 58, a gripe asiática (vírus H2N2) matou quase 2 milhões de pessoas no mundo inteiro. De 1968 a 69, a gripe de Hong Kong (H3N2) deixou 3 milhões de mortos. De 1997 a 2004, foi a vez da gripe aviária, com 300 mortes. Ela voltou à cena este ano, na Alemanha e nas Filipinas, o que já preocupa autoridades sanitárias.

Por sua vez, entre 2009 e 2010, a gripe suína (ou gripe A) vitimou 17 mil pessoas em vários países – inclusive no Brasil. Também vale lembrar que a Aids (vírus HIV) gerou pânico no mundo todo, até a ciência descobrir meios de evitá-la e de reduzir a taxa de mortalidade entre os infectados. Contudo, outras doenças venéreas continuam a se espalhar pelo mundo.

No enfrentamento com a Covid-19, temos vantagens e desvantagens. Em primeiro lugar, a ciência nunca esteve tão avançada e os meios de informação, tão eficientes quanto nos dias de hoje. Seguindo corretamente as orientações da OMS e do Ministério da Saúde, os danos podem ser minimizados.

Se por um lado o coronavírus tem um alto índice de transmissibilidade, por outro, sua taxa de letalidade é menor que a de outros vírus (cerca de 3,74% na China). Para se ter ideia, a do ebola varia de 25% a 90%. Além disso, já foram identificados os grupos de risco, o que facilita a prevenção.

Entre as desvantagens estão o aumento das populações urbanas, a rapidez dos meios de transporte, a falta de investimentos em saúde pública, as fake news e a ausência de controle epidêmico em muitos países. Com a redução de fronteiras, sobretudo na União Europeia, e o crescente fluxo de turistas, vírus e bactérias nunca tiveram tanta facilidade de proliferação.

*Jorge Fernando dos Santos é jornalista, escritor, compositor, tem 44 livros publicados. Entre eles Palmeira Seca (Atual), Prêmio Guimarães Rosa 1989; ABC da MPB (Paulus), selo altamente recomendável da FNLIJ 2003; Alguém tem que ficar no gol (SM), finalista do Prêmio Jabuti 2014; Vandré – o homem que disse não (Geração), finalista do Prêmio APCA 2015; e A Turma da Savassi (Miguilim)

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