Reportagem : Isa Patto

Imagine juntar um contador de histórias, um poeta, um músico e um ator em uma só pessoa? Nuno Arcanjo, morador de Santa Tereza é isso tudo e mais. É, também, empreendedor e publicitário. Nuno é um facilitador poético, aquele que tem um jeito de transformar conhecimento em poesia, poesia em experiência sensorial e experiência sensorial em aprendizado acelerado com “mais prazer e alegria”. A partir daí ele criou a Facilitação Poética, uma mistura do artista com o empreendedor.

Filho de um jornalista e escritor e mãe cantora, poetisa e jornalista, seu talento vem de berço. É uma mistura dos dois, pois poesia é a palavra que canta e segundo Nuno, “eles traziam para dentro de casa musicalidade, literatura, poesia e arte, portanto tenho sim um legado familiar“.

Eu amo Santa Tereza e não saio daqui

Em 2004, ele e a mãe escolheram morar em Santa Tereza. Queriam um lugar tranquilo e cultural. “Santê tem tradição cultural, shows, festivais, artesãos, bares para todos os gostos e gente boa que valoriza tudo isso”. Apesar de acontecer tanta coisa, Santa Tereza é um lugar onde se vive em paz.

“Temos esse privilégio. As pessoas se sentem em uma cidade do interior com vida tranquila e boemia. Santa Tereza é minha casa, é minha cidade, é o lugar onde me sinto acolhido”. De vez em quando Nuno pode ser visto com seu violão e sua poesia no palco da Feira Terra Viva aqui em Santa Tereza. E seu amor pelo bairro é tanto que até fez um poema dedicado a Santa Tereza que, de quebra, ainda lembra nosso portal santaterezatem. (Veja no vídeo.)

Contador de histórias

Ainda estudante de publicidade, Nuno fez um curso de teatro e, mesmo sem pretensão de se tornar um grande ator, acabou se descobrindo. “Na época estava desanimado com a publicidade e o teatro começou a fazer sentido para mim. Foi nesse curso que conheci a Guida de Oliveira que me chamou para fazer o curso de contação de histórias.” Em 1999, junto com ela e o Amon Siqueira, montaram o grupo “Fábula – Contadores de história”, que durou oito anos. Apresentavam-se em bares, festas, eventos além de montarem espetáculos.

Ele conta que, como se encontrou nas artes cênicas, resolveu fazer faculdade de teatro na UFMG. “Em 2006 me formei como professor de teatro. Paralelo à faculdade continuava com meu trabalho no grupo Fábula e continuamos nos profissionalizando.” Na época, era novidade a contação de história e o grupo era um dos poucos que tinha uma inserção no teatro, com produção, figurino, luz, etc.

Fez ainda o Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, ministrou oficinas, participou de teatro de rua, deu aula por dois anos na faculdade de Educação da UFMG, fez carreira solo como contador de histórias e começou a trabalhar com homenagens poéticas em festas.

“Quem me procurava contava a história da pessoa homenageada ou do casal, no caso de uma festa de bodas, por exemplo, e eu transformava em poesia. Foi com esse trabalho que me vi empreendedor, pois ele virou o meu primeiro negócio na internet que chamei de “Poesia Pessoal”. Recebia as encomendas de poesias via site e entregava por e-mail. Fiz isso durante três anos, mas aos poucos foi ficando inviável financeiramente”, comenta.   

Como surgiu o facilitador poético

Na época do site “Poesia Pessoal”, Nuno foi assistir à palestra de lançamento do livro de sua amiga Rafaela Cappai, que é uma empreendedora criativa. Nesse evento a autora falou que, aos quatro anos de idade, foi declamar numa festa familiar e se sentiu conectada com todos, sentiu como se os átomos do seu corpo estivessem fazendo uma festa. Nuno achou a história linda e teve vontade de escrever algo com o título “A Festa dos Átomos”. Ficou pensando naquilo e quase não prestou atenção em mais nada. Sentiu que tinha que escrever naquela hora e foi o que fez. Quando a palestra acabou, ela abriu para perguntas e ele pediu para ler o que tinha escrito.

Segundo ele “todos gostaram muito e Rafaela comentou sobre a habilidade do Nuno de captar tudo e sintetizar”. Naquele momento ele teve a percepção de que aquilo que escrevera fazia sentido para as pessoas. “Foi o embrião do que é a Facilitação Poética de hoje” resumiu.

A partir desse dia, quando Nuno ia a cursos, palestras ou workshops, sempre fazia seus textos e lia para os presentes como uma forma de exercitar essa escrita poética. Segundo ele, em um desses cursos, no dia primeiro de outubro de 2016, nasceu “oficialmente” a Facilitação Poética como um negócio que daria retorno financeiro. “Lembro-me que naquele dia era como se estivesse nascendo uma profissão que não existia. A apresentação do meu texto teve um efeito grande nas pessoas. Havia na plateia uma professora da Fundação Dom Cabral, Martha Pimentel, que me contratou para um evento corporativo. Pela primeira vez fui remunerado pelo trabalho que estava fazendo.”

Hoje em dia Nuno vive de suas poesias, atendendo qualquer tipo evento, principalmente corporativos ou convenções. Para ele, ter um poeta num evento empresarial é uma inovação. “Não é só diferente porque é exótico, mas porque o que faço é transformar em poesia um conteúdo. Através da poesia levo os participantes a absorverem tudo com emoção”, explicou.

Em seu processo de trabalho, a primeira coisa que faz é o ”briefing” com o cliente. (”Briefing” é a palavra, em inglês, que significa dar informações e instruções concisas e objetivas sobre o trabalho a ser executado, uma espécie de resumo do que se quer.)

Se no contrato constar Abertura e Encerramento, por exemplo, Nuno leva os textos prontos, mas as intervenções durante o evento são feitas “in loco”. Ele assiste e faz anotações ao mesmo tempo. ”Escrevo o que está acontecendo, vou criando e articulando poeticamente as palavras. Não é muito fácil, mas já desenvolvi uma técnica própria, é um olho no peixe e outro no gato, como dizem”.

Para quem quiser mais do conhecer o trabalho do Nuno é só acessar www.facilitacaopoetica.com.br