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Como vai a convivência com os vizinhos?

Por Luis Borges publicado em Jul 08, 2019, no blog Observação & Análise

Essa pergunta pode ser respondida com um “depende”. O pode ser classificada como inoportuna ou de difícil resposta nesses tempos de muita polarização em torno da visão de mundo que cada um tem. Quem quer conservar energia deve estar atento ao que se fala ou se posta, pois qualquer interpretação enviesada pode levar à intolerância, à raiva e ao ódio, deixando de lado o respeito às pessoas de uma sociedade que se quer civilizada em seu convívio. Se as coisas estão assim no plano macro da vida ao longo do país, fico tentando observar e analisar como estão as relações entre as pessoas no nível micro do cotidiano nas ruas em que moram cercadas por vizinhos.

Para ilustrar a situação sugiro que imaginemos uma rua de apenas um quarteirão, que tem comprimento de 100 metros e é perpendicular à duas outras ruas que lhe dão acesso numa cidade como Belo Horizonte. Suponhamos também que nela existam mais casas e barracões no fundo da horta do que edifícios de pequeno porte contendo de 4 a 8 apartamentos e apenas um lote vago. É possível também imaginar que nessa rua existem moradores bem antigos, outros mais recentes que são proprietários de seus próprios imóveis bem como pessoas que moram de aluguel e que geram uma maior rotatividade em função da transitoriedade da maior parte deles. Isso faz com que frequentemente apareçam caras novas pela rua enquanto algumas outras saem de cena.

Então podemos nos colocar na condição de moradores dessa rua imaginária para avaliar alguns aspectos que podem chamar a atenção sobre o convívio cotidiano das pessoas do local. Quantos se cumprimentam com um “bom dia” ou apenas trocam um olhar com o rabo do olho ou ainda até balbuciam algumas palavras? E quantos baixam a cabeça ou fingem que não estão vendo ninguém e se tornam invisíveis? Existem também aqueles que só andam em algum veículo automotor e já saem da garagem com os vidros fechados e bastante atentos ao pequeno trânsito, o que não lhes permite ficar olhando para alguém que esteja na calçada. Dá até para pensar se existem vizinhos que se frequentam ou se aqueles que conversam preferem fazer isso nas calçadas ou mesmo falar com voz um pouco mais alta com quem está na janela da casa do outro lado da rua.

Outro aspecto que mexe com muitos moradores é a coleta do lixo domiciliar. Nem todos observam o horário de coleta nem os dias. Acabam por colocá-lo na calçada a qualquer momento, inclusive nos finais de semana em que não há coleta e, algumas vezes, o lixo doméstico é acompanhado por bens que o caminhão de lixo não recolhe. Se alguém tentar educar o vizinho indisciplinado fica difícil prever a sua reação e até mesmo a animosidade que poderá ser gerada.

E qual é a sua reação quando o visitante do seu vizinho para o carro na porta de sua garagem? Como fica sua paciência quando o alarme do carro ou da casa/prédio de vizinhos começa a disparar? E quando o cachorro de alguém começa a latir insistentemente ou o gato de algum vizinho pula o muro de sua casa para miar no seu jardim? Tem também o galo de outro vizinho que canta a partir das 4h da madrugada ou os pombos batendo asas em busca do alimento colocado na calçada por um outro vizinho. Também é inesquecível o vizinho que começa a lavar o carro todo sábado às 7 horas ouvindo música com o som nas alturas.

A segurança de pessoas e bens é sempre uma preocupação, mas formar uma rede de vizinhos protegidos é muito desafiante e mantê-la funcionando é um desafio ainda maior. Não sei se você ou algum vizinho já pensou em fazer algo semelhante em sua rua. Ao mesmo tempo fico me perguntando que vizinhos tem o número do telefone, e-mail ou WhatsApp daqueles que estão mais próximos e quantos ficam sabendo em tempo quase real se algo mais preocupante aconteceu com algum morador. Pode ser um ato de violência, um roubo, um problema grave de saúde ou até mesmo um caso de morte que vai se descobrindo aos poucos, por exemplo.

Não tenho a pretensão de citar aqui tudo o que pode acontecer num quarteirão de uma rua e nem seria possível. Mas você teria outras situações para narrar que podem impactar o convívio entre vizinhos?

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