Artigo: A quem interessava? - Santa Tereza Tem
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Artigo: A quem interessava?

A quem interessava apresentação tipo “escondidinho” e a “toque de caixa” de mais uma tentativa de construir “torres” nas cercanias do Santa Tereza?

Marco Antônio Vale Gomes (Jornalista e morador do Santa Tereza)

Torres PHV Santa Tereza_destaque

Projeto atual da PHV prevê 3 torres comerciais de 80m cada

Pois é. Nos livros policiais ensina-se que uma das perguntas que qualquer detetive – profissional ou amador – deve fazer ao começar uma investigação é “a quem interessa o crime”. Ou outra, mais cínica: “sigam o dinheiro”. Pois os moradores do Santé, “investidos”, mais uma vez (¹), de funções detetivescas seguiram o roteiro dos escritores policiais.

Perguntemos, então. A quem interessava, no apagar das luzes do mandato do atual prefeito de Belo Horizonte, agredir a ADE/SANTA TEREZA e apresentar, mais uma vez, proposta de construção flagrantemente ilegal, devido suas proporções, que confrontam com as diretrizes de tombamento, e, além do mais, feia de doer, no entorno do bairro?

Primeiro foi a tal “torre” de 85 andares. Devidamente chutada para escanteio pelos moradores do Santa Tereza. Agora, a mesma empresa construtora e o mesmo escritório de arquitetura apresentam novo projeto para o mesmo terreno. Única diferença é que, em vez do prédio de 85 andares, com 350 metros de altura, seriam três prédios de 23 andares, com 80 metros de altura. E nem a “justificativa turística” (que não é justificativa e, muito menos, turística) de que seria o maior prédio da América Latina tem mais…

A apresentação do projeto ao Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte CDPCM-BH) decidida de afogadilho para acontecer no dia 21 de dezembro, véspera de Natal, é clara “estratégia” de “pegar” os santaterezenses de calças na mão… “Eles” não aprendem…

Conselheiro terreno da PHV

Nesta área onde a PHV pretende construir as torres poderia ser feito um parque com muitas árvores, pistas de corrida, brinquedos.

“Eles” não aprenderam, até hoje, que os santaterezenses são gente informada, conscientizada, mobilizada e que têm orgulho do bairro onde vivem. – O próprio prefeito Márcio Lacerda disse ao Santa Tereza Tem, em entrevista por escrito que nos concedeu (no dia 24 de novembro, leia aqui), – “Santa Tereza é um bairro ímpar na sua capacidade de mobilização e seu sentido de pertencimento ao lugar. Ímpar na proteção do seu patrimônio histórico. A proteção do bairro se deu a partir disso. A nós chegaram quase quatro mil assinaturas pedindo o tombamento. Esse fato é inusitado no cenário da proteção do patrimônio cultural e mostra uma comunidade madura e conhecedora de sua vocação. Cabe a nós do poder público contribuir para esse crescimento e potencializar. Por fim, quero dar os parabéns a Santa Tereza, que participando ativamente das questões da cidade, tem contribuído para um olhar estendido de toda BH para a cultura, a gastronomia, as tradições e a memória da cidade, a quem temos o dever de preservar”.

Então por que tentar de novo, a 9 dias do encerramento do mandato, aprovar um projeto nitidamente ofensivo aos moradores, ao meio ambiente e ao próprio senso de lógica e de preservação tão necessários e tão reclamados por todos?

Torres - Arte Salve Santa Tereza

Arte ou “meme”, feito pelo Movimento Salve Santa Tereza, sobre os impactos aos moradores

Aí chegaríamos à segunda “dica” dos autores policiais: “sigam o dinheiro”. Será que há interesses ocultos influindo nessa apresentação de projeto no final do mandato e a toque de caixa? – Nesses tempos de lava jato, toda especulação é possível. As empresas querem ganhar dinheiro, é lógico. Mas a qualquer custo?

Por outro lado, os moradores querem preservar seu estilo de vida, querem preservar sua vista e não querem três torres espelhadas e gigantescas a refletirem o sol sobre o bairro o que pode, como disse a arquiteta Karine Carneiro, aumentar a temperatura da região. Nesses tempos em que tanto se fala de aquecimento global, tal construção é, até, antiecológica.

E tem mais: a cidade precisa de arborização sempre, então, porque não desapropriar o terreno, tombar e recuperar o prédio histórico da Fábrica de Pregos (³), plantar árvores nas áreas livres e até construir um parque ou uma grande praça, não só para os moradores de Santa Tereza, mas de toda cidade?  E por que não incorporar a Vila Dias à ADE/SANTA TEREZA?

Vista Fabrica de Pregos São Lucas

Antiga fábrica de pregos, devidamente restaurada, poderia servir à comunidade

Enquanto isso, deixem-me dar razão a uma afirmação do prefeito que encerra seu mandato em mais alguns dias: o sentido de “pertencimento” que nós, santaterezenses por nascimento e/ou adoção, temos – e temos mesmo – nos enche de orgulho. Eu, mesmo, quando me perguntam onde moro, encho o peito e a alma para dizer: em Santa Tereza, claro!

(¹) Vamos nos lembrar de algumas vezes em que nos “investimos” de tais funções investigatórias: (a) impedir que o Mercado Municipal se transformasse em quartel da Guarda Municipal; (b) impedir que o Mercado Municipal fosse cedido à Fiemg para que construísse uma escola de mecânicos para a Fiat; (c) impedir a transformação da Rua Conselheiro Rocha em via de passagem, para carros que se dirigissem a outros bairros e/ou ao centro de BH, gerando dezenas de desapropriações, inclusive do icônico Bar do Orlando; (d) garantir o tombamento de centenas de residências históricas do bairro, medida que foi aplaudida pela ampla maioria dos moradores e a grande maioria proprietários de tais imóveis.

 (2) Quem sabe pode ser construída ali uma UMEI? – Isso é uma “indireta” para o senhor, prefeito eleito Alexandre Kalil… Já pensou que beleza? – Uma UMEI em um prédio histórico, para as crianças da Vila Dias, servindo a população mais pobre e necessitada?

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