Ocupação de mulheres é criada neste 8 de março - Santa Tereza Tem
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Ocupação de mulheres é criada neste 8 de março

Ocupa Tina Martins_casa abrigo

Mulheres querem transformar prédio desocupado em casa abrigo. Foto: Divulgação Movimento de Mulheres Olga Benário

No Dia Internacional da Mulher (8 de março), voltado para homenagem e reconhecer históricas lutas femininas, foi iniciada em Belo Horizonte uma ocupação construída por mulheres. O Ocupa Tina Martins, iniciativa organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário, ocupou o edifício público localizado na Rua Guaicurus nº 343, na esquina com a Espírito Santo, no centro da cidade, onde funcionava o antigo “bandeijão” da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atualmente está desativado.

Segundo as organizadoras, o objetivo é chamar a atenção do Estado para a necessidade de melhorar a efetividade de políticas públicas preventivas e de proteção às mulheres vítimas de violência. “Nesse dia, costumamos receber flores e bombons, mas é importante rememorar o caráter histórico de luta dessa data, em que morreram centenas de mulheres queimadas numa fábrica por lutar por seus direitos. No Brasil, os dados de violência são alarmantes: a cada 90 minutos uma mulher é assassinada, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada. Basta!”, alertam as manifestantes.

Ocupa Tina Martins_limpeza

Limpeza do espaço na manhã de terça. Foto: divulgação

Entre as reivindicações das ocupantes estão o funcionamento de delegacias de atenção a mulheres por 24 horas ao dia, a abertura de casas abrigo e de mais creches públicas. “Exigimos uma verdadeira política de Casa Abrigo, que atenda, acolha e proteja a mulher que foi violentada e seus filhos. O atual atendimento não é nem de longe capaz de suprir as demandas das mulheres vítimas de violência. Exigimos a construção de mais creches públicas, já que a atual estrutura não é suficiente para atender milhares de crianças que hoje precisam desse direito. Queremos delegacias de mulheres 24 horas. Lutamos pela legalização do aborto. A nossa luta é e sempre será pela vida das mulheres!”, defende o Movimento.

O grupo de mulheres iniciou a manifestação no prédio na manhã de terça-feira, fazendo um mutirão de limpeza e a adaptação do espaço para que possa servir de abrigo para vítimas de violência. Nesse mesmo dia, já chegaram algumas mulheres interessadas em serem abrigadas e foram acolhidas.

Reunião com Secretaria das Mulheres_Tina Martins

Reunião entre Movimento de Mulheres Olga Benário e Secretaria de Mulheres de Minas Gerais, na Ocupação Tina Martins.

Militantes e abrigadas estabelecem a ocupação, resistindo à pressão da Polícia Militar, que cercou o local no primeiro dia e permanece fazendo rondas constantes. Elas já tiveram reunião com representantes da Secretaria de Mulheres do Estado de Minas Gerais, que intermedeia a negociação do movimento com o Governo do Estado, e estiveram com a Defensoria Pública da União. Diariamente, no local são realizadas rodas de conversas sobre questões das mulheres, intervenções artísticas e políticas, com envolvimento e apoio de movimentos sociais, profissionais e estudantes de diversas áreas, além da sociedade civil, principalmente mulheres. Doações como alimentos e utensílios de cozinha estão sendo recebidos para ajudar a manutenção do abrigo.

 

Quem foi Tina Martins

Por Blog Mulheres Incríveis

Espertirina (Tina) Martins foi uma jovem combatente do início do século XX. Uma greve geral repudiava as condições de trabalho em várias áreas, com jornadas exaustivamente longas e salários miseráveis. Houveram piquetes, manifestações, apedrejamentos, barricadas, Tina Buquêmotins e ocupações. A pauta ia além, reivindicava também diminuição de itens essenciais à vida dos trabalhadores, como alimentos e aluguéis.

No ano de 1917, a brigada militar matou, em Porto Alegre, um operário. Revoltados, os grevistas da cidade promoveram um protesto que incluía o enterro do trabalhador. Inúmeros operários acompanharam o ato, em procissão. Um grande número de mulheres se destacava. Protagonizando o evento, a jovem anarquista de 15 anos, Espertirina Martins, carregava um buquê de flores. A repressão veio com a cavalaria da Brigada Militar, que confrontou os ativistas em pleno protesto.

Com a aproximação dos brigadianos, Espertirina jogou seu buquê na cavalaria. Houve uma explosão que matou metade da tropa, visto que as flores ocultavam uma arma letal. Surpreendidos, os militares perderam a batalha. O resultado foi uma conquista de jornada de 8 horas de trabalho, proibição do trabalho infantil, aposentadoria, licença maternidade, assistência médica e indenizações às vítimas de acidente do trabalho.

A menina Espertirina, nascida em 1902 na cidade de Lajeado, era filha de anarquistas, tendo acompanhado os familiares nas lutas operárias desde jovem. Tina militou pelo feminismo em Porto Alegre, com ampla atuação em grupos anarquistas. Atuou também no Rio de Janeiro, promovendo atividades revolucionárias. Morreu em 1942, vítima de um parto prematuro e apendicite.

 

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